Em maio as explosões solares ficarão mais fortes - entenda esse violento fenômeno (matéria publicada na Revista Galileu, em abril de 2013)
Como as tempestades solares são formadas? O que elas são capazes de fazer no corpo de um astronauta? Qual a explosão mais forte já registrada? GALILEU conversou com especialista pra esclarecer o que o próximo mês de maio significa para o Sol – e para quem mora na Terra.
por João Mello
Flagra de uma forte explosão solar: plasma pode ser jorrado a mais de 700 mil km de distância //Crédito: NASA
O Sol é uma bomba atômica que não para de explodir. De tempos em tempos, essas explosões atingem seu ápice, fenômeno chamado de 'máxima solar'. Os resultados desse evento podem ser ao mesmo tempo devastadores e surreais: em um dia de 1859, por exemplo, era possível ler um jornal no meio da rua, mesmo à noite. Hoje, essa violência poderia causar uma chuva de satélites.
Sabendo que o próximo auge das explosões deve ser mês que vem, em maio, há muita gente ficando nervosa. Mas não há motivos para se preocupar: tudo leva a crer que será um ápice discreto.
Os ciclos costumam durar 11 anos, mas isso é uma média, já que eles podem variar entre 9 e 14 anos. O ciclo atual, então, deve ter começado em meados de 2008 e provavelmente irá até o final de 2018. “É tudo uma questão de vales e picos. Esse pico atual é bem ameno. Mas uma ou outra explosão pode ser extremamente poderosa” explica Ulisses Capozzoli, doutor em Ciências pela USP. Esse é considerado o 24º ciclo – isso porque a Humanidade começou a acompanhar a atividade solar há um período relativamente recente, ainda mais se considerarmos a escala cósmica.
A NASA mantém um observatório em Doulder, nos EUA, cuja função é monitorar o que acontece com a estrela que regula a vida dos terráqueos. Lá, os cientistas acompanham a chamada heliosismologia, nome dado ao estudo que investiga os tremores na superfície do Sol. Eles não são capazes de prever explosões apocalípticas daqui a uma década, mas é possível antecipar tempestades que irão acontecer nas próximas horas ou dias. “Nosso conhecimento do Sol é relativamente grande, mas não o suficiente para entendermos uma série de fenômenos”, diz Ulisses.
Não é difícil relacionar a imagem do Sol explodindo com o fim da vida na Terra. Para tranquilizar a todos, GALILEU conversou com Ulisses para entender de uma vez por todas o que são as explosões solares e com elas podem afetar nossa vida. Confira a entrevista:
Como as tempestades solares surgem?
O coração do Sol é um reator natural de fusão nuclear funcionando a 15.000.000 °C. Lá dentro tem uma quantidade muito grande de matéria, uma pressão gravitacional enorme: 340 bilhões de vezes maior que na superfície da Terra. O que o Sol faz é transformar massa em energia: quatro átomos de hidrogênio são “amassados” para formar um átomo de hélio. Como tem mais massa de hidrogênio que de hélio, essa sobra é jogada pra fora.
Ás vezes demora 1 milhão de anos pra essa energia subir até a superfície do Sol. Imagine uma bola de futebol atravessada de um lado pro outro por uma mola. Essa mola, no caso do Sol, é uma linha magnética que impede que essa energia venha até essa superfície. Essa linha vai ficando emaranhada até que ela se rompe. É aí que a energia é liberada abruptamente. Quando essa linha se rompe, a energia sobe e o plasma é jogado com violência. Em dezembro de 2012 houve uma explosão que jogou plasma a 700 mil km de distância, É quase duas vezes a distância daqui pra Lua.
Os astronautas podem sofrer danos com as tempestades solares?
Uma tempestade solar tem poder para alterar a codificação genética dos seres humanos: o astronauta pode desenvolver câncer, já que as células são modificadas. A radiação solar e a radiação cósmica também podem ocasionar problemas de visão, como a catarata.
Nós poderíamos ir para Marte agora, temos aeronaves com tecnologia o suficiente para isso. Mas um dos entraves é a radiação cósmica. A ISS (Estação Espacial Internacional) tem um abrigo especial para esse tipo de situação – é um cômodo revestido por paredes de chumbo. Não à toa, o Super-Homem não enxerga através de paredes com chumbo.
O que uma tempestade solar realmente intensa poderia causar aqui na Terra?
Teve uma explosão solar em 1859 que incendiou redes de telégrafo. Hoje, uma quantidade de energia que nem essa danificaria uma série de satélites, haveria interrupção temporária das transmissões de TV ou até mesmo a ruína total dos satélites. Além disso, o vento solar pode inchar a atmosfera, fazendo com que satélites em órbita rocem na atmosfera, percam velocidade orbital e caiam na Terra. Tripulações de aviões poderiam ter problemas: um avião que sai dos EUA pro Japão faz uma rota polar. Isso significa que haveria um bombardeio de partículas – essas pessoas iriam adquirir uma probabilidade maior de desenvolver câncer, se comparado com quem está no solo. O Sol é uma bomba atômica.
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Brasil, maio de 2013
Universidade Planetária do Futuro - Ano IV
Centro de Pesquisa e Ciências do Meio Ambiente
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Coordenação: Ana Felix Garjan
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