Universidade Planetária do Futuro, através do seu Centro de Ciências do Meio Ambiente divulga artigo enviado pela Agência FAPESP
Imersão nas redes ecológicas, 16/3/2011
Por Fábio de Castro
Agência FAPESP – Este ano, estudantes brasileiros e estrangeiros envolvidos com o tema das redes ecológicas terão a oportunidade de passar nove dias reunidos com alguns dos principais especialistas do mundo na área.
A São Paulo School on Ecological Networks será realizada entre os dias 16 e 23 de setembro pela Associação Brasileira de Ciência Ecológica e Conservação (Abeco) e pelos programas de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade de São Paulo (USP). A cidade onde ocorrerá o evento será definida em breve. As inscrições poderão ser feitas até o dia 15 de abril.
Realizado no âmbito da Escola São Paulo de Ciência Avançada (ESPCA), modalidade de apoio lançada pela FAPESP em 2009, o evento será organizado por Thomas Lewinsohn, presidente da Abeco e professor do Departamento de Biologia Animal da Unicamp, em conjunto com Paulo Guimarães Jr. e Paulo Inácio Prado, ambos do Departamento de Ecologia do Instituto de Biociências (IB) da USP.
Os participantes serão 40 estudantes de doutorado ou recém-doutores selecionados (20 brasileiros e 20 do exterior), que estarão reunidos com dez dos mais proeminentes cientistas da área de redes ecológicas, sendo metade estrangeiros e metade brasileiros.
“O curso tratará do universo das redes ecológicas em duas vertentes principais: a análise de redes de interações entre espécies e a análise espacial, envolvendo os diferentes ecossistemas que integram uma mesma paisagem. Os docentes convidados são jovens pesquisadores muito prestigiados, que se tornaram lideranças nessas áreas”, disse Lewinsohn à Agência FAPESP.
Devido às especificidades da ecologia, o evento terá um formato especial, misturando as características de um curso teórico intensivo e da imersão no trabalho de campo em biologia.
“Em ecologia, no Brasil e em todo o mundo, temos uma longa tradição de realização de cursos de campo, nos quais os participantes realizam pequenos projetos de pesquisa nos ecossistemas estudados. Nessa linha, planejamos um híbrido de escola puramente teórica e de vivência em campo”, disse.
A decisão de selecionar um grupo relativamente pequeno de docentes e estudantes teve o objetivo de intensificar a interação entre os participantes. “Os docentes poderão assim ter uma participação mais plena, discutindo ativamente e orientando os projetos de pesquisa do grupo”, explicou.
De acordo com Lewinsohn, a área de redes em ecologia é bastante recente. Embora seus fundamentos tenham sido estabelecido sobre uma grande quantidade de pesquisa consolidada anteriormente, a área teve um desenvolvimento realmente forte na última década. “Nesse contexto, o foco será dirigido a duas linhas de frente: as redes de interações e as redes espaciais”, disse.
A primeira vertente analisa diferentes níveis de interações biológicas, como aquelas que ocorrem entre planta e polinizador, entre planta e dispersor, ou entre parasita e hospedeiro, por exemplo.
“A ideia é abordar como se estruturam essas complexas redes de interações entre espécies. Trata-se de uma área que está ganhando cada vez mais força e que tem um vasto campo a explorar. Ao mesmo tempo, os métodos para se trabalhar na análise profunda dessas redes estão se diversificando, dentro de um contexto interdisciplinar que tem grande contribuição da matemática, da estatística e da física”, explicou o organizador.
Outra linha de frente do curso é a análise das redes espaciais, que corresponde à organização de diferentes tipos de ecossistemas dentro de uma mesma paisagem ou região.
“Essa vertente é especialmente importante em boa parte do Brasil, onde os ecossistemas originais estão cada vez mais fragmentados entre as matrizes agrícolas e, no caso de São Paulo, também entre as matrizes urbanas”, disse Lewinsohn.
Essa estrutura espacial extremamente complexa, se for encarada como um problema de redes, pode ser analisada com ferramentas semelhantes às que são utilizadas na análise de interações.
“Com isso, multiplicamos as possibilidades de entender como se dá a dinâmica ecológica nos fragmentos naturais, além de fazer previsões e estudar diferentes estratégias de manejo e conservação”, afirmou.
Redes de trabalho
Segundo Lewinsohn, os candidatos às 40 vagas para participação na escola deverão apresentar uma carta explicando sua trajetória, sua linha de pesquisa atual e justificar as razões de sua participação.
“A ideia é que sejam pós-graduandos ou recém-doutores plenamente ligados a alguma atividade de pesquisa, de preferência que envolvam as linhas de investigação tratadas no curso”, disse.
Para os organizadores, a expectativa é que a escola possa potencializar consideravelmente o trabalho dos participantes e que eles tenham estímulo para abrir novas linhas de investigação além daquelas nas quais já estão atuando.
“Esperamos que o curso gere muitas parcerias, a partir do contato muito estreito que todos terão nos intensivos trabalhos de campo. Queremos estabelecer redes de trabalho comuns sobre dados de cada um. Antes da escola, vamos estimular que todos tragam bases de dados que serão exploradas no curso em ‘clínicas de discussão’. Certamente, as interações extrapolarão a escola, gerando laços que no futuro permitirão intercâmbio científico entre esses pesquisadores”, afirmou o professor da Unicamp.
Os docentes brasileiros que darão aulas na escola serão Jean Paul Metzger, do Departamento de Ecologia do IB-USP, Mauro Galetti, do Laboratório de Biologia da Conservação da Universidade Estadual Paulista (Unesp), Lucas Faria, do Departamento de Biologia da Universidade Federal de Lavras (MG), Luciano Costa, do Departamento de Física e Informática do Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, e Marcus Aguiar, do Departamento de Física do Estado Sólido e Ciência dos Materiais do Instituto de Física Gleb Wataghin da Unicamp.
Os professores estrangeiros serão Diego Vázquez, do Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Tecnológicas (Argentina), Jordi Bascompte, da Estação Biológica de Doñana, do Conselho Superior de Pesquisas Científicas (Espanha), Marie Josée Fortin, do Departamento de Ecologia da Universidade de Toronto (Canadá), Stefano Allesina, do Departamento de Ecologia e Evolução da Universidade de Chicago (Estados Unidos), e Tim Keitt, da Universidade do Texas em Austin (Estados Unidos).
Mais informações sobre a escola: www.abecol.org.br/redesecologia
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Brasil, 16 de março de 2011
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