A nova dialógica do jornalismo do futuro
Por Carlos Castilho, para o Observatório da Imprensa
Os professores Heikki Heikkilä e Risto Kunelius, da Universidade de Helsinki, Finlândia, estão pesquisando uma hipótese que pode acender uma luz no fim do túnel em que se encontra a imprensa mundial, depois que a internet colocou de pernas para o ar o modelo convencional de negócios na indústria dos jornais.
Eles estão desenvolvendo a tese de que a informação jornalística deve ser o resultado da convergência de duas lógicas distintas na produção de notícias. A primeira delas seria a lógica da diversificação e descentralização, materializada nos blogs e na discussão entre os consumidores de notícias, enquanto a outra seguiria a lógica convencional das redações, centralizada e focada.
Parece uma idéia meio absurda e contraditória, mas se olharmos com mais cuidado, ela faz sentido. Hoje, o consumidor de notícias vive o dilema de desconfiar na objetividade e isenção dos jornais, ao mesmo tempo em que entra em paranóia quand o tenta buscar diversificar suas fontes de informação e acaba caindo no universo caótico dos blogs, twitters e fóruns de debate na Web.
Num ambiente de avalancha informativa gerada pela internet, as redações convencionais na imprensa já não têm mais condições de processar toda a massa de noticias que recebem diariamente. São obrigadas a fazer uma seleção, mas está cada dia mais difícil identificar o contexto de cada informação e, aí, os erros de avaliação se multiplicam provocando o descontentamento do leitor.
Por isso, a diversidade é essencial para contemplar os vários nichos de interesse criados pela Web. A diversidade surge a partir da troca de idéias entre os usuários — uma troca de idéias que não segue as normas das redações, mas a da cultura. Ela é desorganizada, às vezes caótica e não raro agressiva.
Mas é onde, por exemplo, 72% dos adultos norte-americanos formam suas opiniões, segundo revelou uma pesquisa do Centro Pew, especializado em investigações sobre comportamentos dos usuários da Web nos Estados Unidos e no mundo. No Brasil o percentual pode ser diferente, mas o comportamento é similar.
Só que o material produzido nessas conversas e comentários é de difícil transmissão porque é desordenado e contraditório. É necessário que alguém organize essa massa de informações e a coloque à disposição de outras pessoas num formato de fácil leitura e compreensão. É aí que entram os jornalistas profissionais das redações.
É claro que a ordenação e edição tiram uma parte da diversidade do material produzido nos fóruns de debates, nas mensagens do Twitter e nos comentários de blogs. Mas isto é um mal menor, comparado à situação atual em que as redações se transformaram em verdadeiros bunkers de acesso quase exclusivo a políticos, governantes, empresários e formadores de opinião.
A nova dialógica do jor nalismo contemporâneo contempla duas dinâmicas diferentes, mas que podem ser complementares porque uma não pode viver sem a outra. A grande incógnita é como esta convergência vai acontecer. Heikki Heikkilä e Risto Kunelius estão convencidos de que ela é inevitável, e já têm seguidores como o australiano Axel Bruns e o norte-americano Douglas Rushkoff.
Eles estão pesquisando o desenvolvimento de um ambiente web capaz de gerar uma interação entre o universo caótico dos blogs e fóruns de debate com a preocupação dos jornalistas com a objetividade, clareza, precisão e concisão. O objetivo é quase óbvio, mas a coisa se complica quando passamos a considerar os valores e a conjuntura em que estão inseridos atualmente os leitores e os profissionais.
Em algumas circunstâncias as distâncias são abissais, e se não houver mudança de valores e rotinas, em ambos os lados, será quase impossível integrar lógicas tão díspares. Mas se os obstáculos são enormes, por outro lado estamos condenados a achar uma solução porque, sem ela, todos perdem — os leitores e a imprensa.
Embora as pesquisas ainda estejam em fase preliminar, tudo leva a crer que o ponto de partida será o estudo dos processos de produção colaborativa de informações.
(Envolverde/Observatório da Imprensa)
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Direção:
Ana Felix Garjan, Maria de Fátima Felix Rosar,
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