Artista internacional que utiliza lixo marinho leva suas idéias para o Alasca
Por Mike Dunham (13 de junho de 2010)
Foto: Longobardi recolhe redes coloridas encontradas na praia para utilizar em seu trabalh o artístico. © PAM LONGOBARDI / Georgia State University.
Fotógrafa e artista de instalações, Pam Longobardi tinha acabado de concluir um de seus mais recentes trabalhos quando a plataforma de óleo Deepwater Horizon explodiu no Golfo do México.
Era 20 de abril e Longobardi estava concluindo a construção de uma grande parede, com o formato aproximado de um espelho de mão, criada inteiramente com pedaços de plástico preto que ela coletou em praias.
“Isso foi como uma premonição para mim”, ela disse. Ambos da mesma cor e pelo fato de que o plástico é feito a partir do petróleo. “Há informações sobre o plástico que são realmente alarmantes. Ele, na verdade, não se desintegra.”
Longobardi, professora de arte na Georgia State University, tem realizado exibições ao redor do mundo, incluindo locais como as Olimpíadas de Beijing e na Bienal de Veneza. Seu currículo inclui mais de quarenta mostras individuais e numerosas coletivas. Ela estará no Alasca esta semana para se apresentar em Anchorage e Seward.
Durante os últimos cinco anos, seu objeto recorrente tem sido o lixo marinho. Ela é a criadora do Drifters Project, um projeto colaborativo e interd isciplinar em andamento, focado em detritos marinhos e poluição por plástico.
Pelo telefone de sua casa em Atlanta, ela nos descreveu seu processo de trabalho. Ela caminha pelas praias, observa pilhas de lixo provenientes do mar e reflete sobre o que isso quer dizer, sobre a relação entre o mundo natural e a cultura humana.
“Quando eu encontro um fragmento, ele já se apresenta para mim como uma instalação pronta. É como se ele se evidenciasse”, ela comenta. “Eu produzo fotos conforme as vejo, como se um artista já tivesse passado por ali, mas eu jamais toco ou realoco nada. Depois de fazer a foto eu faço uma limpeza na praia, levando comigo todo o lixo que eu consigo carregar.”
O material é então utilizado em conjunção com as fotos para criar suas instalações.
“Estou interessada em fazer com que as pessoas pensem sobre suas próprias relações com o plástico”, ela diz. Isso porque 99% do lixo vêm do plástico. Muito desse lixo são objetos de higiene pessoal. Escovas de dente, grampos de cabelo, copos, garrafas plásticas, objetos do dia-a-dia. O plástico é o principal componente da sociedade de consumo.
Então acontece o desperdício industrial. “Atualmente todas as redes de pesca são feitas de plástico. Quando elas se perdem nas águas provocam um enorme impacto.”
Foto: Pam Longobardi não precisa procurar muito para encontrar detritos nas praias e transformá-los em arte. © PAM LONGOBARDI / Georgia State University.
A arte x o lixo
Howard Ferren, diretor de conservação do Center for Alaskan Coastal Studies (Centro para Estudo da Costa do Alasca) em Seward, que está recebendo Longobardi, espera que a visita dela auxilie no início de um projeto que resultará em uma exibição com foco na utilização de lixo marinho do Alasca como um intermediário artístico.
“O que temos no Alasca são muitas praias que cercam ou que estão expostas ao Pacífico Norte”, diz ele. Há em andamento eventos de limpeza de praias próximas a áreas habitadas, mas “devido à nossa imensa costa e a distância, há locais de acesso muito difícil”.
Durabilidade, a qualidade que faz do plástico um material tão conveniente, apresenta-se como um problema quando toneladas deste produto são liberadas na natureza. Ferren citou como exemplo os filhotes de albatroz da Ilha Midway, que fica próxima de uma gigante e permanente balsa flutuante de material descartado, chamada de “mancha” do Pacífico Norte. Os albatrozes, pais inconscientes, alimentam seus filhotes com pedacinhos de plástico até que o estômago das pequenas aves se rompa.
“Temos muitos dados científicos e estatísticas”, diz ele . “Mas, às vezes, as pessoas podem se engajar mais através da exposição do problema utilizando a arte.”
Ferren está fazendo contato com artistas internacionais que lidam com o lixo marinho como matéria-prima de seus trabalhos, assim como Longobardi, com a idéia de formar uma expedição rumo as costas mais remotas do Alasca. O material coletado “resultaria uma exposição de arte que poderia ser costumizada para exibição em diversas instituições, como museus de arte e aquários”, diz ele.
Foto: © Center for Alaskan Coastal Studies
Exposição de bóias
Alguns moradores do Alasca já estão fazendo algo a respeito. O Centro para Estudos da Costa do Alasca, em Homer, que organizou lixo coletado através de “caminhadas pela costa” durante anos està ¡ transformando parte do lixo em arte neste verão.
A mostra “Drift”, intitulada “Flotsam and Jetsam Art Tour”, apresenta bóias resgatadas a partir de detritos coletados durante caminhadas de limpeza. Nesta primavera, as bóias foram entregues a artistas locais que as decoraram ou as reconstituíram de maneiras criativas. Os produtos resultantes foram apresentados em uma exposição coletiva, no dia 4 de junho, e estão atualmente expostos em vinte e cinco locais dos dois lados da baía de Kachemak.
“Os artistas de Homer são inacreditáveis”, declara Melanie Dufour. “É louca a variedade de técnicas e as coisas que eles antevêem. Temos entre 90 a 100 peças - algumas utilizando mais de uma bóia - incluindo artistas que vão desde alunos da pré-escola até Toby Tyler.”
Tyler é um célebre pintor profissional de Homer, que atua na cidade há mais de 50 anos.
“Já têm pessoas que me perguntam: ‘Vocês v ão fazer isso de novo o ano que vem, não é?’ “, diz Dufour.
A exposição “Drift” que se parece com a “Wild Salmon on Parade”, permanecerá em cartaz até a primeira semana de setembro. As peças então serão leiloadas, com metade da renda revertida para o Centro e metade para os artistas.
Foto: Bóia comprida com pedaços de animais: "Fish Eyes" (olhos de Peixe) de Mary Huff. © Center for Alaskan Coastal Studies.
Ciência cidadã
O leilão do Centro para Estudos da Costa do Alasca coincidirá com a caminhada anual pelo litoral.
“Temos mais de 300 pessoas participando do evento no nosso litoral a cada ano”, diz Dufour. “E há outros grupos fazendo o mesmo. É uma maneira bacana e divertida de garimpar o lixo. Chame-a de ‘ciência cidadã’.
Dufour disse que está observando uma mudança do tipo de lixo que vem chegando à costa durante o decorrer dos anos. “Costumavam ser mais engrenagens de pesca comercial. Agora vemos mais engrenagens de pesca esportiva e objetos relacionados a atividades de lazer.”
A Península de Kenai recebe sua parcela de lixo oceânico. Um projeto de 55 dias, realizado no ano de 2007, retirou 41 toneladas de detritos de 116 quilômetros do litoral sul da Península - o que não significa de forma alguma um recorde.
“Nossas limpezas são um esforço importante”, disse Ferren. “Mas há tantas toneladas de lixo para se retirar anualmente. Temos que tomar medidas para, antes de qualquer coisa, conter o aparecimento do lixo.”
Isso não é nada fácil na vida moderna, tão atrelada ao plástico. Ao alcance das mãos, posso citar dúzias de objetos como: capas de CDs, óculos, fones de ouvido, pote de loção corporal, telefone, tub o de cola e o próprio teclado do computador - todos ao alcance da mão e de certa forma indispensáveis.
“As bóias são ferramentas úteis”, disse Dufour. “Mas, quando são descartadas, elas se tornam lixo, poluição.” “A exposição ‘Drift’ é uma forma de se criar um evento de arte por meio do qual as pessoas observem e, conforme notem as bóias tenham informação sobre elas, sobre o que são os detritos marinhos, o que elas fazem.”
Os ecos do objetivo de Longobardi.
“Eu quero encorajar as pessoas a pensarem sobre as coisas que usam, sobre as que jogam fora e não serem estupefatas. Como no caso desse vazamento de óleo (no Golfo do México), que me deixa com dor de estômago. Catástrofes ambientais frequentemente deixam as pessoas estupefatas por uma total paralisia. Elas pensam que não há nada que possam fazer. Mas todos podemos fazer alguma coisa. E se muitas pessoas estiverem faze ndo algo, isso fará a diferença.”
Essa diferença já aconteceu na vida de Longobardi. “Desde que comecei esse projeto, eu modifiquei o meu próprio comportamento. Pessoas me dizem que viram meu trabalho e começaram a reciclar.”
“Esse é o melhor resultado que eu poderia esperar.”
Foto: © PAM LONGOBARDI / Georgia State University
Artista da poluição marinha
PAM LONGOBARDI fará sua palestra as 19:00 na terça-feira, no Anchorage Museum, 625 C St., e na quinta-feira, as 18:30, no Alaska Sealife Center, 301 Railway Ave., em Seward.
DRIFTERS, por Pam Longobardi (Edizione Charta, 68 ilustrações, sendo 64 coloridas, U$ 29.95), contará com cópias previamente autografadas pela artista, que estarão disponíveis para compra durante a p alestra, ou online através do endereço eletrônico www.pamlongobardi.com
DRIFT, bóias artisticamente readaptadas, estará em exibição em diversos locais dos dois lados da Kachemak Bay até dia 07 de setembro. Um mapa com a localização das peças pode ser obtido no Center for Alaskan Coastal Studies (Centro para Estudos da Costa do Alasca), localizado no 708, Smokey Bay Way, em Homer, na Câmara de Comércio de Homer e pela internet, através do endereço http://www.akcoastalstudies.org/
Foto: "Sappho's Mirror" (O Espelho de Sappho) de Pam Longobardi. © PAM LONGOBARDI / Georgia State University
adn.com
Tradução: Global Garbage
Miriam Santini
Reproduzido de: GlobalGarbage.Org
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Brasil, 25 de setembro de 2010
Universidade Planetária do Futuro
Presidente: Ana Felix Garjan
Centro de Ciências do Meio Ambiente
Prof. Dr. Herbe Xavier
Departamento de Arte/ Diretoras:
Sandra Fortes Felix, Ana Felix Garjan,
Luciana Fortes Felix, Zelle Tupinambá Bittencourt
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